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10/10/2003
Momotaro
("filho do pêssego")
Origem: Japão
Há muitos anos, no Japão, vivia um velho casal de camponeses. Eles eram muito solitários, posto que não tinham filhos. Um dia, como de costume, o velho aprontou-se para para cortar lenha e sua esposa foi lavar roupas à beira do rio. Estavam no início do verão e o campo estava lindo. A grama perto do rio parecia um mar de veludo cor de esmeralda. A brisa soprou suavemente sobre as águas, formando pequenas ondas e tocou o rosto dos dois que, por alguma razão que não conseguiam explicar, sentiram-se especialmente felizes naquela manhã.
A velha então acomodou-se e pôs-se a lavar as roupas. A água estava límpida como cristal e ela podia ver pequenos peixes nadando de um lado para o outro e os seixos no fundo do rio. Enquanto estava entretida em seu trabalho, um enorme pêssego apareceu, flutuando nas águas. Ao vê-lo, ela parou, maravilhada.Era um pêssego extraordinário e a mulher, do alto de seus sessenta anos, jamais havia visto uma fruta daquele porte. "Que delicioso deve ser!", disse consigo mesma. "Eu poderia apanhá-lo e levar para meu velho." Ela esticou seus braços ao máximo para tentar apanhá-lo, mas ele estava muito longe. Ela procurou por uma vara, porém, em vão. Então lembrou-se de uma velha cantiga e, batendo as palmas, começou a cantar:
A água distante é amarga,
A água próxima é doce;
Saia da distante água
E venha para a doce
Por mais estranho que pareça, assim que a mulher começou a cantar, o pêssego começou a se aproximar, cada vez mais e mais, até que ela o alcançou. Ela estava tão feliz que não conseguia concentrar-se de novo no trabalho, por isso voltou correndo para casa, onde esperou ansiosamente pela volta do marido. À noite, quando o velho voltou do trabalho, mal o viu chegando, a mulher gritou da soleira: "O-ji-san (velho)!!! Hoje esperei tanto pelo seu retorno!!!" e saiu apressada para buscar o pêssego. "Olhe, velho, você já viu um pêssego desse tamanho?" O homem ficou espantado com o pêssego. "Realmente, este é o maior pêssego que já vi na vida!" Como estava faminto, depressa foi buscar uma faca para cortar a fruta. "Vamos dividi-lo logo!"
De repente, uma vozinha gritou: "Espere! Não me corte!". O pêssego então se abriu e de dentro dele saiu um lindo bebê. O casal ficou atônito. "Não tenham medo. Eu não sou nenhum demônio ou fada. Os deuses compadeceram-se de vocês, pois lamentavam dia e noite por não terem filhos. Eu fui mandado pelos céus para ser este filho." Ao ouvir isso, o casal ficou extasiado. Por ter nascido de um pêssego, a criança foi chamada Momotaro ("garoto-pêssego" ou "filho do pêssego"). Quinze anos se passaram e agora Momotaro era um jovem forte e mais alto que qualquer outro garoto; tinha um belo rosto e o coração corajoso e era muito sábio para sua idade. Um dia, Momotoro disse a seu pai:
O pêssego então se abriu e de dentro dele saiu um lindo bebê.
"Pai, o senhor tem sido muito carinhoso comigo e eu não sei como agradecê-lo. Peço-lhe um pouco de paciência pois antes de poder começar a retribuir todo o amor e cuidado dispensados, devo partir, pois em terras distantes, a nordeste do Japão, há uma ilha no mar. Tal ilha é a fortaleza de muitos demônios. Muitas vezes ouvi que eles invadem esta ilha, roubam e matam as pessoas, e até as devoram. Devo derrotá-los e trazer de volta a esta terra tudo que eles levaram. Deixe-me ir agora e eu voltarei." Seus pais concordaram, orgulhosos por seu filho querer ajudar os outros e prepararam-lhe muitos mochis (pronuncia-se "motis"; bolinhos feitos com uma massa de arroz) para ele levar em sua jornada.
Momotaro partiu e após meio dia de caminhada, sentiu fome e sentou-se sob uma árvore para comer um mochi, quando um cão enorme, quase do tamanho de um lobo, surgiu, mostrando-lhe os dentes e rosnando: "Quem se atreve a entrar em meus domínios sem pedir-me permissão antes? Dê-me todos esses mochis e poderá ir em paz, do contrário, vou mordê-lo até matá-lo!" Momotaro riu: "O que você está falando? Sabe quem sou? Sou Momotaro, e estou no meu caminho para derrotar os demônios da ilha a nordeste. Se você se puser em meu caminho, vou dividi-lo em dois!"
Ao ouvir esse nome, a atitude do cão mudou. Meteu o rabo entre as pernas e abaixou a cabeça até quase tocar o chão: "O senhor é mesmo Momotaro? Muitas vezes ouvi sobre sua força. Por ignorar quem o senhor era, agi estupidamente. Poderá o senhor um dia perdoar-me? Deixe que este servo acompanhe o senhor em sua caça aos demônios e serei imensamente grato." Momotaro consentiu e deu ao faminto animal a metade de um mochi. "Muito obrigado, senhor". Então o jovem levantou-se e prosseguiu seu caminho, com o cachorro seguindo seus passos.
Por um longo tempo, caminharam sobre as montanhas e através dos vales sem que nada acontecesse. Então um macaco desceu das árvores e saudou-os: "Bom dia, Momotaro! O senhor é muito bem vindo a esta parte do país! Posso juntar-me em sua jornada?" O cão, ciumento, replicou: "Momotaro já tem um cão para acompanhá-lo! Que utilidade teria um macaco numa batalha? Nós vamos combater demônios! E é uma indignidade para o senhor Momotaro ter um macaco em sua companhia! Dê o fora!" Então os dois animais começaram a discutir e a brigar, pois macacos e cachorros sempre se odiaram. Momotaro parou a briga: "O que você sabe, cão, sobre isso?" e virando-se para o macaco: "Quem é você?"
"Eu sou o macaco que mora aqui nessas montanhas. Ouvi sobre sua jornada à ilha dos demônios e gostaria de acompanhá-lo". "Está mesmo disposto a lutar contra os demônios?" "Sim, senhor! Nada poderia me dar maior prazer". "Admiro sua coragem. Junte-se a nós", disse Momotaro, entregando-lhe meio mochi. O macaco então juntou-se à campanha, porém ele e o cachorro brigavam o tempo inteiro, o que deixou Momotaro bastante irritado, a ponto de colocar o cachorro para andar à sua frente, carregando uma bandeira e o macaco atrás dele carregando uma espada. Momotaro passou a carregar um leque de guerra, todo feito em aço.
Continuaram andando até chegar num descampado, onde um faisão pousou na frente do grupo. Era a mais bela ave que Momotaro já havia visto. O cachorro correu em direção ao estranho e tentou matá-lo, mas a ave voou e mordeu a cauda do cão, e a briga começou. Momotaro não conseguia deixar de admirar o pássaro: além de belíssimo, possuía um grande espírito guerreiro. Então foi até os combatentes e segurando o cachorro disse: "Pássaro, você se meteu em meu caminho, mas como tem um bom espírito guerreiro, vou levá-lo em minha campanha. Se recusar-se, mandarei o cachorro arrancar-lhe a cabeça." Então o faisão rendeu-se, pediu perdão pela briga e implorou para acompanhar o grupo.
Momotaro e seu exército
Momotaro então falou:"Agora ouçam-me com atenção todos vocês! A primeira coisa de que um exército necessita é harmonia. A união é mais valiosa que qualquer ganho material. Se não houver harmonia entre nós, será difícil derrotar o inimigo. De agora em diante, vocês três, o cachorro, o macaco e o faisão terão de ser amigos, com uma meta em comum. O primeiro que começar uma peleja será eliminado!" Todos os três prometeram não brigar. Como agora o faisão fazia parte do exército de Momotaro, recebeu também meio mochi.
A influência de Momotaro era tão grande que os três animais logo tornaram-se bons amigos e o obedeciam. Após alguns dias, o grupo chegou à orla do Mar do Nordeste. Não havia nada no horizonte, nem um sinal da ilha; a única coisa que quebrava a monotnia daquela paisagem era o rolar das ondas. Até aquele momento, o cão, o macaco e o faisão haviam sido valentes, mas nenhum deles nunca havia visto o mar e ficaram todos em silêncio. Perguntavam-se como poderiam atravessar toda aquela água. O líder percebeu que seus amigos estavam receosos e tentou encorajá-los: "Por que hesitam? Estão com medo do mar? Covardes são inúteis para lutar contra demônios! Será melhor que eu vá sozinho! Estão todos dispensados!"
Os três retomaram a bravura e imploraram por uma nova chance: "Por favor, viemos até este ponto, tão longe, não é justo que sejamos descartados dessa maneira! Não estamos com medo do mar! Por favor, deixe-nos seguir!" Momotaro então respondeu: "Então venham, mas sejam cautelosos!" Após construírem um pequeno navio, os quatro subiram a bordo rumo à ilha. Inicialmente, o cão, o macaco e o faisão ficaram assustados, pois nunca haviam estado sobre as águas, mas se acostumaram rapidamente e logo estavam todos felizes e animados novamente. Após alguns dias de viagem, avistaram uma ilha ao longe. Momotaro na hora soube de que se tratava do forte demoníaco.
Lá no alto do precipício havia um castelo fortemente guardado, sem nenhuma entrada à vista. Momotaro começou a pensar em como poderiam entrar lá, então ordenou ao pássaro que fosse na frente: "Você possui asas boas. Voe até lá e provoque os demônios para uma guerra. Nós iremos logo atrás", e assim foi. Chegando ao telhado do castelo, o faisão pôs-se a gritar: "Seus diabos idiotas! Olhem aqui em cima! O grande general japonês Momotaro veio aqui para derrotá-los. Se quiserem salvar suas vidas, rendam-se, quebrando seus chifres! Do contrário, o cachorro, o macaco e eu, o faisão, os mataremos!" Os demônios riram-se e ridicularizaram a bravura da ave e, furiosos, vestiram peles de tigre para parecerem ainda mais pavorosos e cada um armou-se de uma grande barra de ferro. A ave levantou vôo para contra-atacar as criaturas malditas com tamanha rapidez que estes pergutavam-se se estavam combatendo realmente apenas um pássaro.
Enquanto isso, os outros aproximaram-se da terra e passaram a procurar alguma entrada entre os altos muros da fortaleza, até encontrar duas belas donzelas lavando roupas num riacho. Momotaro notou que as roupas tinham manchas de sangue e que as duas moças choravam copiosamente. "Quem são vocês, e por que choram?" Uma delas respondeu "Nós fomos capturadas pelo Rei dos Demônios. Apesar de sermos filhas de daimios (lê-se "daimi-ôs"; lordes), somos obrigadas a servir a estes monstros, ou seremos mortas e devoradas, e ninguém pode nos ajudar" e suas lágrimas aumentaram. Momotaro tranqüilizou-as: "Eu as salvarei; apenas me mostre como entrar no castelo". As moças então os levaram para uma pequena entrada, tão pequena que a comitiva teve de passar de gatinhas.
O faisão que até aquele momento lutara bravamente contra os diabos, voou até seus amigos. Momotaro lutava com tal ferocidade que ninguém conseguia derrotá-lo. Para os demônios, antes seu único inimigo era o pássaro, mas agora Momotaro, o cachorro e o macaco estavam ali também e eram tão selvagens e fortes que pareciam não quatro, mas centenas de soldados. Alguns diabos caíram nas pedras e foram transformados em migalhas, outros caíram no mar e foram engolidos, outros apanharam tanto que morreram por isso. No final, o único sobrevivente era o Rei dos Demônios e ele acabou se rendendo. Ele aproximou-se de Momotaro, tirou sua armadura e sua pele de tigre, ajoelhou-se diante do vencedor e quebrou seus chifres mostrando submissão (pois os chifres são o sinal da força e do poder dos demônios).
Momotaro então amarrou o Rei e confiou-o ao macaco. Depois percorreu cada aposento do castelo e libertou todos os capturados e juntou todos os tesouros que encontrou. Todos retornaram, o cachorro e o faisão carregando de volta os tesouros e macaco levando o demônio, agora prisioneiro. O país inteiro celebrou Momotaro como um herói em seu retorno. O velho e a velha estavam mais felizes e orgulhosos que nunca e todos eles viveram juntos e confortavelmente, por causa do tesouro que Momotaro trouxera consigo, até o fim de seus dias.
|Bá| |11:12 PM|
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